sexta-feira, 6 de julho de 2018

EaD: conceitos e discussões


 EaD: Uma Modalidade Educacional
        A EaD surgiu, inicialmente, com o intuito de possibilitar às instituições de ensino a oferta de cursos supletivos para atender àqueles discentes que estariam fora da faixa etária dos cursos regulares. A verdade é que essa modalidade de ensino não é recente, pois, já existe desde o século passado e ficou mais acessível com as novas tecnologias da informação que surgiram na década de 70 com o objetivo de difundir a comunicação e informação em larga escala, facilitando a utilização de conteúdos digitais por meio de redes.
         Com a popularização dos recursos digitais, possibilitada pelo surgimento da internet, a EaD obteve um grande avanço, em especial no Brasil, onde essa modalidade educacional é assegurada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que define os cursos à distância que conferem certificados ou diplomas de conclusão de curso.
Segundo Paulo Ramos, “As TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação – trazem novas perspectivas para a sociedade ao derrubarem barreiras geográficas e promoverem o acesso, potencialmente ilimitado, à informação e à comunicação numa possibilidade universal, eficiente e imediata.”
Diante dessas novas probabilidades a “nova” modalidade educacional almeja estimular estratégias que possam propiciar a autonomia do educando de modo a contribuir com o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias a seu percurso acadêmico, ou seja, uma nova forma de aprendizagem que requer maneiras díspares de interação entre educando e educador na construção do conhecimento.
Pois de acordo com Behrens (2000, p.78):
Num mundo globalizado, que derruba barreira de tempo e espaço, o acesso à tecnologia exige atitude crítica e inovadora, possibilitando o relacionamento com a sociedade como um todo. O desafio passa por criar e permitir uma nova ação docente na qual o professor e aluno participam de um processo conjunto para aprender, de forma criativa, dinâmica e encorajadora, e que tenham como essência o diálogo e a descoberta.
A mediação desses cursos chamados virtuais dar-se-á por meio de                         tecnologias ou mídias e é realizada por tutores que estimulam os discentes dessa modalidade de ensino a buscarem novos saberes.
Diante disso, percebe-se que é preciso aprender a lidar com as novas tecnologias, pois só será possível desenvolver atitude crítica e inovadora nessa perspectiva se soubermos fazer bom uso dos aparatos tecnológicos. Ou seja, essa habilidade é um dos requisitos essenciais a serem observados na escolha da modalidade de ensino à distância e das instituições.
As instituições devem estar equipadas com todos os recursos essenciais para atender às necessidades de uma educação à distância, tendo em vista que a internet é um dos principais instrumentos tecnológicos usados nessa modalidade de ensino, mas não é o único.
Sabe-se que a revolução tecnológica mudou a cara da educação e, a partir dessas transformações, tornou-se necessária a revisão dos paradigmas para atender à nova geração, a chamada geração EaD. Paulo Ramos admoesta:
“Que as novas tecnologias da informação e comunicação (TIC), estão sendo introduzidas no processo ensino- aprendizagem levando em consideração toda uma abordagem didático-pedagógica, que objetiva o desenvolvimento de habilidades e competências no educando”.
O desenvolvimento dessas habilidades e competências para a busca da aprendizagem instiga o educando a assumir um papel de pesquisador. Papel esse fundamental para ingressar num curso online.
É por isso que a EaD é diferente das outras modalidades de ensino. Além de exigir que o educando busque o conhecimento, tornando-se co-autor da sua aprendizagem, faz, ao mesmo tempo, uma avaliação contínua de todos os envolvidos no curso.
Entretanto, a sua prática não deve limitar-se apenas ao domínio dos conteúdos, mas também ao domínio dos aparatos tecnológicos. Pois, para ter acesso a uma educação virtual mediada pelas novas tecnologias, faz-se necessária a adoção de novas metodologias que possibilitem um ensino-aprendizagem de qualidade.   Como afirma (Belloni 1999,p.5):
“As sociedades contemporâneas e as do futuro próximo, nas quais vão atuar as gerações que agora entram na escola, requerem um novo tipo de indivíduo e trabalhador em todos os setores econômicos: a ênfase estará na necessidade de competências múltiplas do indivíduo, no trabalho em equipe, na capacidade de aprender e de adaptar-se a situações novas.”

Essas novas situações, certamente, exigem do indivíduo uma aprendizagem eficaz, capaz de adaptarem-se as necessidades e possibilidades existentes e ao mesmo tempo criar novas formas de saberes.

A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA SALA DE AULA



            Muitas pesquisas em torno da abordagem da variação linguística nas escolas tem explicitado a urgência de mudança de concepção acerca da visão monolítica da língua. Infelizmente, ainda é enorme a difusão do preconceito linguístico nas mais diversas esferas: mídias impressas e digitais e infelizmente no âmbito educacional.
Por muitos anos, o trabalho com a variação foi ignorado ou menosprezado por professores e autores de livros didáticos. Como nos afirma Bagno (2002, P.47-48): O objetivo do ensino tradicional na escola brasileira sempre foi transmitir aos alunos uma língua digna, a norma padrão, que é identificada como português.
Dessa forma, os alunos eram encaminhados para serem ensinados a utilizar o idioma, pois, os que dominavam a norma culta da língua eram rotulados de sábios, dignos de veneração. Frequentemente ouvia-se alguém assumir não saber falar o português, como se fosse outro idioma, demonstrando-se inseguro ao expressar-se em público. Outros sofriam preconceitos, sendo excluídos de frequentar alguns setores da sociedade. Tudo isso porque desconhecia os detalhes da língua padrão.
Com o surgimento da sociolinguística, a ciência que estuda as relações que existem entre todos aqueles fatores (idade, sexo, escolaridade, origem geográfica e etc.) usados para classificar um falante e o modo como ele fala, vê-se a necessidade de mudar a nossa postura diante dos estudos de Língua Portuguesa. Não podemos tratar mais o idioma como sendo o resultado apenas de um modelo padrão. Precisamos reconhecer a importância do trabalho de considerar a variação linguística e seu uso na sala de aula.
Pois como nos afirma Antunes (2009, P.22):
Em qualquer língua, de qualquer época, desde que em uso, ocorreram mudanças, em todos os estratos, em todos os níveis, o que significa dizer que, naturalmente, qualquer língua manifesta-se num conjunto de diferentes falares que atendem às exigências dos diversos contextos de uso dessa língua (ANTUNES, 2009, p.22).
Cientes de que todos sabem falar o português, podem até não dominar a norma culta, o que não significa que desconhecem seu idioma, como propõem os linguistas- cientistas da língua. Segundo Bagno (2001, P. 24), a língua falada é que é a verdadeira língua natural, a língua que cada pessoa aprende com sua mãe, seu pai, seus irmãos, sua tribo, seus grupos sociais e etc. Ela é que é a língua viva, em constante ebulição, em constante transformação.
É vital democratizar a educação escolar, para não estigmatizar o aluno por não dominar a Norma Padrão, por seguir uma sequência natural, por ser influenciado pelo contexto no qual está inserido. Precisa-se utilizar no âmbito educacional, o que Bagno rotula de “Educação Linguística” (2002), ou seja, as múltiplas variedades linguísticas (sociais, regionais, profissionais, etárias) que qualquer língua viva possui. A intenção não é aceitar o erro, como alguns julgam, ou substituir uma língua por outra. E sim, como assevera Gagné (2002) familiarizar o aluno com a diversidade linguística. Algo também preconizado por Bagno ( 2002, p. 134)
 [...] é interessante estimular nas aulas de língua materna um conhecimento cada vez maior e melhor das variedades sociolinguísticas para que o espaço de sala de aula deixe de ser o local para estudo exclusivo das variedades de maior prestígio social e se transforme num laboratório vivo de pesquisa do idioma em sua multiplicidade de formas e usos (BAGNO, 2002, p. 134).
Infelizmente o ensino da língua materna limita-se ao ensino de gramática, apresentada como norma culta, exclui o ensino de todas as manifestações escritas ou faladas por qualquer falante nativo, contribuindo ainda mais para a propagação do preconceito linguístico posto que a relevância  atribuída a cada variação ainda continua vinculado à classe social de seus falantes.
Tanto os autores de livros didáticos quanto os educadores ainda confundem-se com os termos Língua Padrão[1] e Língua Culta[2]. Ensinar Português ou a língua, não é transmitir apenas regras da gramática descontextualizada das situações reais de uso dos falantes, pois desta forma ele está privilegiando apenas uma das variedades da língua e as demais estão sendo ignoradas.

Comungando desta mesma acepção Bortoni- Ricardo (2005, p.15) diz que:
A escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas. Os professores e por meio deles, os alunos têm que estar bem conscientes de que existem duas ou mais maneiras de dizer a mesma coisa. E mais, que essas formas alternativas servem a propósitos comunicativos distintos e são recebidas de maneira diferenciada pela sociedade” (BORTONI-RICARDO,2005, p. 15)
            Diante do exposto, fica evidente que a escola precisa repensar suas práticas pedagógicas e ter como ponto de partida as variedades linguísticas, para explorá-las de forma mais sistemáticas. Pois a partir do momento que fizer isso todos serão beneficiados: escola/docentes e alunos, visto que partirão de reais situações comunicativas para realizar uma educação linguística eficiente.
A sociolinguística nos ensina que a língua varia de acordo com os grupos sociais. Diante disso, é preciso que os professores, ao escolherem um livro didático, observem como este analisa a questão da variação linguística, fazendo a seguinte pergunta: como esse livro aborda o ensino variação na sala de aula.

De acordo com Calvet (2002:32):

A Sociolinguística objetiva sistematizar a variação presente na linguagem não alçando mão da perspectiva evolutiva cronológica, mas pensando nas alterações perceptivas em curso da língua no presente. Ela considera fatores como idade, sexo, educação utilizando pressupostos da análise linguística tradicional para estabelecer correlação entre o social e o linguístico.
( CALVET, 202, P.32)

Segundo Bagno (2000:55) “O estudo científico da linguagem oral é importante por ser na língua falada que ocorrem as mudanças e as variações que incessantemente vão transformando a língua”.
A linguagem padrão que se ensina é diferente e distante do português utilizado no dia a dia, o que leva muitos a concepção de que desconhecem essa língua. Para Bagno (2011) “o preconceito linguístico não existe. O que existe de fato é o preconceito social. Então, a língua, a maneira de falar da pessoa é apenas uma desculpa que as outras pessoas usam para discriminar, para excluir. Então o preconceito é social”.
Assim como os autores acima citados, os PCN de Língua Portuguesa (1998:48) reconhece a importância de trabalhar levando em conta a variação linguística, porém, nos adverte quanto à forma de lidar com essa situação, respeitando as diferenças para não realçar a questão do erro e acerto evitando a discriminação de algumas manifestações linguísticas:

O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Assim um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos. (BRASIL, 1998, p. 48).

 “N
O Professor de Língua Portuguesa deve estar ciente de que existem variedades, tanto na língua falada como escrita. A escola precisa dar espaço para que seus alunos e envolvidos revelem diversas formas de comunicação provindas de sua comunidade, uma vez que nela circulam pessoas de faixa etária, regiões, escolaridade, renda díspares. Sobre esse pensamento Bagno (2001, p.59) propõe:
 
Desdobrar dentro da escola um painel multifacetado, complexo e rico da realidade linguística brasileira, em vez de oferecer como único modelo a ser imitado o dos clássicos da literatura. A escola, insisto, tem de se abrir a todos os gêneros em que se pode concretizar o uso da língua.( BAGNO, 2001,59)

      Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (2001: 12), no item 1.4.2 sob o tópico Que fala cabe à escola ensinar? Nos alerta para a propagação do respeito à integridade linguística de seus alunos orienta também como a escola deve posicionar-se diante de diferentes formas de falar:

A língua Portuguesa, no Brasil, possui muitas variedades dialetais. Identificam-se geográfica e socialmente as pessoas pela forma como falam. Mas há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum se considerarem as variedades linguísticas de menor prestígio como inferiores ou errada. O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença. (PCN, 2001, p.12)

Dessa forma, todos nós, educadores devemos estar atentos às situações que envolvem fenômenos linguísticos considerados erros por serem manifestações que fogem às regras da variedade culta na sala de aula. Nosso aluno não pode sentir-se intimidado ou até mesmo discriminado devido a sua forma de expressar.
Artigo elaborado por: Elania Ferreira

[1] Língua Padrão: é o modelo ideal de língua que deve ser usado que a Gramática Normativa preconiza, que deve ser ensinado pelas escolas, contudo ninguém consegue apreendê-la completamente devido as suas arbitrariedades.
[2] Língua Culta: é a  que é tida como língua correta, está intimamente ligada ao nível social, pois é a língua da elite, das classes mais privilegiadas socialmente, e os que na a dominam, as demais variedades, são estigmatizadas, assim como seus falantes, e vistas como usos errados e inaceitáveis.

O QUE É VARIAÇÃO LINGUÍSTICA?



A teoria da variação linguística tem sido muito discutida na atualidade. Isso se deve às contribuições que seus estudos trouxeram para o âmbito educacional,  principalmente no campo da concepção de língua, rompendo aquela noção arcaica da homogeneidade da língua tão frisada pela gramática normativa.
Os interessados por esta teoria se deparam com um grande dilema, principalmente os professores de língua portuguesa, pois estudam a relevância de utilizá-la na sala de aula, contudo, os livros didáticos, o currículo, e todo um sistema obsoleto insistem em propagar o ensino da língua unívoca e continuam propagando uma prática de ensino prescritivo-normativo. Outras vezes, os professores abordam a variação linguística de forma deturpada, não conseguem potencializar em instrumento pedagógico, limitando-a ao sinônimo de “falar errado”.
Como preconiza Celso Cunha (1975, P.40)
Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu domínio e, ainda num só local, apresenta um sem-número de diferenciações. [...] Mas essas variedades de ordem geográfica, de ordem social e até individual, pois cada um procura utilizar o sistema idiomático da forma que melhor lhe exprime o gosto e o pensamento, não prejudicam a unidade superior da língua, nem a consciência que têm os que a falam diversamente de se servirem de um mesmo instrumento de comunicação, de manifestação e de emoção. (CUNHA,1975, P.40)
O estudioso Cunha nos atenta para a importância de se considerar o estudo da língua numa perspectiva geográfica, social e individual. Pois cada indivíduo tem suas características ímpares e utiliza seu idioma para expressar-se de acordo com seu gosto e pensamento.
Sendo assim, é vital que se compreenda que a variação linguística é a maneira típica de falar de cada indivíduo.  Essas formas de falar, ou diferentes realizações de uma dada língua advêm de fatores de naturezas específicas: histórica, regional, social, contextual. Essas variações podem ocorrer nos níveis fonéticos e fonológico, morfológico, sintático e semântico.
Para Bagno (APUD CRYSTAL, David,):
As línguas não se desenvolvem, não progridem, não decaem, não evoluem, nem agem de acordo com nenhuma das metáforas que implicam um ponto final específico ou de excelência. Elas simplesmente mudam como as sociedades mudam. Se uma língua morre é porque seu status na sociedade se alterou, na medida em que outras culturas e línguas a sobrepuseram: ela não morre porque ficou “velha demais”, ou porque se “tornou muito complicada com às vezes pensam”. (1987, p.4)
Aquele velho mito de “erro” continua impregnado na nossa sociedade. No entanto, se nos adentrarmos no campo da teoria da variação perceber-se-á que ela varia (socialmente) e muda no tempo (historicamente) e no espaço (geograficamente).
Bagno (2002) afirma que
Ora, já está mais do que comprovado que, do ponto de vista exclusivamente científico, não existe erro em língua, o que existe é variação e mudança, e a variação e a mudança não são “acidentes de percurso”: muito pelo contrário, elas são constitutivas da natureza mesma de todas as línguas humanas vivas. Além disso, as línguas não variam/mudam nem para “melhor” nem para “pior”, elas não “progridem” nem se “deterioram”: elas simplesmente (e até obviamente, eu diria) variam e mudam.
Partindo dessa premissa, não se pode estudar a língua como morta, estática, sem considerar as pessoas vivas como salienta Bagno (2008). Por ser viva, a língua se renova constantemente. E com esta renovação decorre um processo de mudança, tornando-a múltipla, dinâmica. Como nos confirma Antunes (2007) “a língua só existe em sociedade, e toda sociedade é inevitavelmente heterogênea, múltipla, variável e, por conseguinte, com usos diversificados da própria língua.”.
Ao salientar que a língua apresenta variação é o mesmo que dizer que ela é heterogênea, e isso se dá por meio de aspectos geográficos, sociais, culturais e econômicos que a constituem. Por isso, não pode e nem deve ser trabalhada de forma inapropriada, como unívoca.